Casa noturna tira o sono de moradores do bairro Buritis

03/02/2017

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Localização. Casa noturna funciona no terraço de prédio comercial na entrada do bairro Buritis; altura favorece propagação do som

 

03-02/2017 –

Uma casa noturna, em funcionamento desde setembro do ano passado, está, literalmente, tirando o sono dos moradores do bairro Buritis, Oeste de Belo Horizonte. A Night Market, instalada no terraço de um prédio comercial isolado na parte mais alta da região, promove festas que chegam a se estender até as 11h do dia seguinte. Sem qualquer barreira física, o som dos DJs da boate se propaga com facilidade, perturbando moradores a uma distância de até 2 quilômetros.

A prefeitura confirmou ter recebido reclamações da comunidade local e informou que a casa foi multada no último sábado por ter alvará para funcionar apenas como restaurante. A notificação agora será publicada no “Diário Oficial do Município”, quando começa a correr o prazo de dez dias para os responsáveis se regularizarem. Caso isso não ocorra, a Night Market pode ser fechada.

Incômodo. Os moradores contam que o barulho se estende madrugada adentro e que as janelas chegam a tremer por causa do som. Eles dizem já ter feito várias reclamações por telefone à Polícia Militar e à central telefônica da prefeitura (156), sem sucesso. Nessa quarta-feira (1), eles procuraram também a Polícia Civil, que prometeu apurar o caso.

O analista de sistemas Rafael Pires, 35, morava a cerca de 300 metros do local. Com filho pequeno, que acordava assustado no meio da noite, ele resolveu se mudar. “Não adiantou nada. Hoje eu moro bem mais longe, e o barulho é o mesmo. O som não encontra nenhuma barreira e perturba praticamente o bairro todo. No último fim de semana, foi até 11h da manhã de sábado. Algumas festas começam no domingo e só terminam na segunda-feira pela manhã”, explica.

O comerciante Zaime Romeu, 57, conta que no último domingo seu filho fez uma reclamação pelo Facebook da Night Market. “O dono veio ao meu apartamento às 3h da manhã para constatar a situação. Ele prometeu uma solução, mas nada foi feito até agora”, reclamou.

O outro lado. A reportagem entrou em contato com o dono do estabelecimento, Matheus Braick, mas ele se recusou a dar entrevista.

Por meio de nota, o empresário garantiu que a casa noturna está “totalmente compatível com a atividade” e respeita o limite de decibéis autorizado pela lei. Além disso, Braick disse estar disposto a conversar com os moradores e a fazer as regularizações necessárias.

ISOLADO NO ALTO

Localização de casa noturna favorece propagação de ruído

Como o ruído ambiente cai bastante durante a madrugada, a sensação de desconforto aumenta com o passar das horas. E por causa da localização da Night Market, em uma parte alta do bairro Buritis, e sem barreiras físicas, há relatos de moradores incomodados com o som a uma distância de até dois quilômetros.

“Normalmente, os equipamentos de bares e boates trabalham em torno dos 100 decibéis. Sem nenhuma barreira, a dois quilômetros do local, esse nível estará em torno dos 40 decibéis. A sensação se agrava à noite, pela falta de ruído ambiente”, explica o professor de engenharia mecânica e coordenador do Laboratório de Acústica e Dinâmica da Estrutura da UFMG, Marco Antônio Vecci.

O engenheiro Afonso Pinho, 30, mora a cerca de 1 km da Night Market. “No último domingo, eram 6h, e a música estava no último volume. A gente vai ficando esgotado”, reclama o morador.

Boicote. A agente de relações internacionais Heidi Lein, 35, diz que contactou o dono da casa noturna pelas redes sociais e que ele teria prometido mudanças. Como isso não aconteceu, ela propôs um boicote à boate nas redes sociais.

“No início, nós achamos a proposta deles até interessante. Não somos contra o lazer, nem a geração de impostos e empregos. Mas virou um desrespeito”. (GC)

Itinerante

Sem prazo. Inaugurada em setembro, a boate funciona de quinta a domingo e foi inspirada em projetos dos EUA e da Europa. A ideia era ficar dois meses, mas não há prazo de mudança de local.

PROJETO

Lei do Silêncio pode ser flexibilizada

Aprovado em primeiro turno na Câmara Municipal em 17 de novembro de 2016, o projeto que altera a Lei do Silêncio na capital não tem data para ser votado em segundo turno. Após o recesso de fim de ano, as reuniões plenárias recomeçaram nessa quarta-feira (1), e o assunto será discutido na Casa ao longo da semana. Um plebiscito sobre o assunto chegou a ser cogitado.

Caso o projeto de lei seja aprovado, o limite será ampliado de 60 para 80 decibéis até as 23h de sexta, sábado e véspera de feriados. De domingo a quinta-feira, a liberação de 80 decibéis seria até as 22h. Atualmente, é permitido o máximo de 60 decibéis até 22h e 50 até a meia-noite de domingo a quinta-feira (GC).

BARES E BOATES LIDERAM RECLAMAÇÕES

Recordistas. Bares, boates e casas de shows são os recordistas de reclamações na Prefeitura de Belo Horizonte quando o assunto é poluição sonora, com até 70% das queixas direcionadas ao telefone 156. Com 7,5%, os templos religiosos vêm logo em seguida. O comércio representa 5% das reclamações, seguido da construção civil, com 4,5%. Os 13% restantes são classificados como “situações em geral”.

Números. Em 2016, foram 8.704 reclamações sobre poluição sonora na capital. A região Centro-Sul, que concentra muitos bares e casas noturnas, é alvo do maior número de reclamações. As multas, de acordo com sua gravidade, variam de R$ 140,33 a R$ 17.576,64. Em caso de reincidência, a penalidade poderá ser aplicada em dobro, e, havendo nova reincidência, a multa poderá ser aplicada até o triplo do valor inicial.

Fonte: Portal O Tempo.

Reportagem: Gláucio Castro

Foto: Mariela Guimarães