Alemanha anuncia plano climático com investimentos de 100 bilhões de euros até 2030

23/09/2019

Sob pressão de manifestações por toda a Alemanha, os partidos da frágil coalizão governamental de Angela Merkel finalmente concordaram com os pontos-chave de uma estratégia climática, após intensas negociações. “Há um acordo com muitas medidas e um mecanismo de verificação anual” para garantir que as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa sejam alcançadas, informaram fontes próximas ao governo.

O desafio consiste em tomar medidas para incentivar os alemães a emitirem menos poluentes, para que o país possa cumprir sua meta de redução. O anúncio ocorreu quando milhares de manifestantes, 80 mil segundo os organizadores, se reuniram em Berlim no icônico Portão de Brandemburgo, para uma ação global em defesa do clima.

Segundo o projeto acordado em discussão, estão previstos investimentos de pelo menos 100 bilhões de euros até 2030. A questão do financiamento é extremamente complicada pelo fato de o governo se recusar a contrair novas dívidas, de acordo com sua política de ortodoxia orçamentária “Schwarze Null”.

As negociações tropeçaram, em particular, em um modelo de tarifação das emissões de CO2, em que gasolina, diesel, gás de aquecimento ou óleo combustível poderiam ver seu preço subir. A questão central é definir um preço alto o suficiente para fazer com que os consumidores optem por soluções menos poluentes, mas que ao mesmo tempo não provoque protestos, como o dos coletes amarelos na França.

Em termos concretos, a estratégia do governo também inclui uma série de medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos setores de energia, construção, agricultura, indústria e transporte. Isso varia entre um favorecimento de transportes públicos e trens, aumento do preço das viagens aéreas na Alemanha, até vários subsídios para o desenvolvimento de carros elétricos. Paralelamente, pretende-se acelerar o desenvolvimento de energias limpas (solar, eólica ou biomassa), chegando a 65% em 2030, contra 40% atualmente.

A pressão sobre o governo de Merkel é grande: deve responder às expectativas dos manifestantes, ao mesmo tempo que um acordo parece indispensável para a própria sobrevivência da coalizão. O ministro social-democrata das Finanças, Olaf Scholz, relacionou diretamente a continuidade da coalizão à elaboração de “um grande projeto climático”. No início do ano, a Alemanha decidiu abandonar o carvão até 2038, mas ainda não programou o fechamentos das minas e centrais.

Outro ponto delicado que deve ser resolvido até 2022 é o abandono da energia nuclear, decidido em 2011 após o desastre de Fukushima. E, enquanto a poderosa indústria automobilística privilegiou por muito tempo veículos movidos a gasolina ou diesel, agora deve se dirigir para o elétrico.

O Globo